sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Sinal dos tempos também no pilates

Desde que comecei a interessar-me pelo método pilates - há cerca de 10 anos - que me tenho deparado com uma enorme parafernália de aplicações "exclusivas". Esta exclusividade advém de uma concepção, no meu entender, completamente errada do método pilates e, mais ainda, de uma necessidade de exercer poder através do conhecimento que me parece condenável. Como diz Michael Miller (www.hermit.com) em vários dos seus textos, pilates é uma ideia. Uma ideia que pode ser depreendida dos registos fotográficos, filmes e escritos existentes e da prática que nos foi chegando até os dias de hoje. Pilates não é, como querem fazer crer alguns, posse de uma aristocracia (esta ideia é desenvolvida por Michael Miller), de uma elite que foi tocada directamente por Joe Pilates ou por alguém que conheceu alguém que foi tocado por ele... Esta ideia de que alguns iluminados possuem o santo graal de pilates, a fonte do método de onde vão tirando mais e mais pedacinhos "autênticos", "originais", que vão distribuíndo ao seu séquito de seguidores atentos (pouco atentos no meu entender) parece-me pouco saudável. É mais fácil ter alguém a pensar por nós, depositar o nosso caminho nas mãos de alguém que "tudo sabe" e me escusa a mim de ter que procurar. É mais fácil simplesmente acreditar em alguém que "tudo sabe" do que questionar sobre as "verdades" que nos são apresentadas como tal.
O nome Pilates tem sido usado como forma de acrescentar valor a programas de exercício. Nenhum programa de formação na área do exercício físico ou da fisioterapia parece estar completo se não incluir a palavra pilates. Hoje em dia há pilates para tudo e para todos: Ele é pilates para grávidas, pilates para yogiis, pilates para corredores, pilates para jovens, pilates para bailarinos, pilates para fisitoterapeutas, pilates com tango, pilates com taichi... e vai por aí fora. A mim, fica-me a ideia de que antes de se espalhar o nome pilates os vários profissionais que mexem com o corpo não tinham ideia sobre como trabalhar o aparelho estabilizador do corpo humano. Espanta-me que métodos tão mais antigos de exercício como o Yoga e o Taichi, por exemplo, precisem de se socorrer do "pilates" para trabalhar o corpo de forma eficaz... Mesmo a fisioterapia, convenhamos, terá outras formas tão válidas quanto o pilates para trabalhar aspectos específicos do corpo. E para não parecer imparcial vejamos a área do exercício físico. Também aqui, desde sempre, houve formas de trabalhar especificamente os músculos estabilizadores do corpo, programas de exercício baseados nos três pilares do pilates: controlo, flexibilidade e força (para usar as palavras de Romana Kryzanowska quando descreve o método que ensina com alguma autoridade). Basta fazer um pouco de pesquisa na internet para encontrar variadissimos registos de programas e métodos de exercício que propõem muitas das coisas que o senhor Pilates propôs.
Apesar da facilidade com que hoje em dia podemos ter acesso à informação, seja através da internet, seja pela facilidade de deslocação pessoal a qualquer lado do mundo, mais e mais gente continua a ignorar (ou a preferir ignorar...) todo este manacial, como se não existesse. Será este seguidismo cego um sinal dos tempos de hoje? Gostaria de acreditar que não mas ...

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

A carneiragem

A grande discussão na área do exercício físico reflete, para mim, o que se passa na organização social de hoje em dia. Há uma grande necessidade de uniformizar, de padronizar, de "standardizar" as práticas profissionais. Usam-se argumentos como "unificação", "junção de forças", "elevação de padrões", "dignificação da classe"...
Eu acredito que a beleza da vida está na diversidade, está na inconstância das coisas. A sobrevivência sempre é melhor quanto maior for a capacidade de adaptação às condições do meio, às situações.
No meu entender, esta necessidade de uniformizar só pode vir de um de dois lados:

  • de quem tem objectivos obscuros de controlar, sendo mais fácil fazê-lo quando existem limites contentores/padronizadores;
  • ou de quem tem pouca capacidade de actuação, precisando de se apoiar na palavra de um guia para dar um passo em frente.

Vinda de qualquer um destes lados, não me parece que a coisa seja boa.

A força dos grupos está na diversidade que o compõe, está na capacidade de individualização e de autosuficiência de cada um dos seus elementos. A força de um grupo não está na capacidade de encarneiramento dos seus elementos. Sei que a institucionalização de qualquer actividade ou prática implica um certo grau de padronização a que, como já se percebeu, eu sou avesso. Daí que, enquanto quiser continuar a criar e recriar ideias no meu trabalho eu vou procurar estar do lado de fora do "main stream" que é como quem diz da carneiragem. São opções e como tal têm consequências!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Pilates Workshop com Troy McCarty

Olá, Vou trazer a lisboa, ao meu estúdio aqui no ginásio Academia, o Troy McCarty. Podem ver o seu curriculum em: http://www.whitecloudstudios.com/ Uma amostra do seu trabalho e das suas ideias é apresentada no youtube. Podem dar uma vista de olhos: http://www.youtube.com/user/troywmcc O workshop decorrerá nos dias 20 e 21 de Junho deste ano e terá o seguinte conteúdo (proposto pelo próprio Troy): Workshop with Troy McCarty We will cover the following: Elongated Spring and the Recoil Spring how it applies to movement. My approach to the classical technique as I have learned from my teachers. -Assisted stretching on the reformer and the trap table. -Effective cueing both verbal and tactile. -Imagery an tools to help your clients grasp some of these exercises. I will provide a handout of each day for your participants for notes and there will be some visual cues on my handouts from my own manual.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O Método Pilates - Um belo instrumento ao nosso serviço

Hoje chegou um possível cliente ao meu estúdio querendo saber informações sobre a prática. É uuma senhora com formação superior, com muita sensibilidade e aparentemente muito segura do tipo de serviço que quer ter. Perguntou quem trabalhava aqui e de onde vinha a formação em Pilates. A dita mulher teve contacto com aulas de Pilates no Brasil, num estúdio pertencente à escola que me formou: The Pilates Studio Brasil. Por ter tido uma muito boa experiência com o trabalho de estúdio estava preocupada em encontrar um estúdio onde o mesmo tipo de trabalho fosse oferecido. Quando percebeu que tinha encontrado um espaço, em Lisboa, onde o trabalho que procurava é praticado, a primeira coisa que disse foi: "É que eu já estava entrando no nível intermediário e estava gostando muito do trabalho".
Esta frase deu-me em que pensar. O trabalho de Pilates não passa de exercício físico. A forma como é ensinado, para fins didácticos e pedagógicos, obriga à divisão em níveis: básico, intermédio e avançado (e super-avançado). Em várias entrevistas a praticantes e professores de Pilates que trabalharam directamente com o Joseph Pilates, pude ler - o que não me surpreendeu - que na época do Pilates não havia essa coisa dos níveis. Havia sequências que eram ensinadas e exercícios fora de qualquer sequência que eram praticados conforme as necessidades dos praticantes.
No início da minha prática como instrutor de Pilates segui à risca as indicações que me foram passadas sobre o método. Assim, o meu objectivo era mais o de progredir com os meus clientes pelos vários níveis seguindo o protocolo. Tive bons resultados. No entanto, fui me apercebendo que, de facto, a divisão em níveis só faz sentido numa prespectiva de ensino, de formação, de sistematização e passagem do conhecimento. Fui me apercebendo que ao centrar-me em progredir pelos vários níveis estava a centrar-me no Método e não nos corpos que tinha em mãos.
A meu ver o Método Pilates, como qualquer outro método de exercício físico, foi criado para servir os seus utilizadores e não o contrário, isto é, para se servir dos seus utilizadores. Numa perspectiva histórica acho importante manter viva a prática tal como ela foi criada. Numa prespectiva de formação, de passagem do conhecimento, já tenho algumas dúvidas se a divisão em níveis, hoje aceite nos meios de formação em Pilates, será a mais acertada.
Voltando à mulher que me procurou, vejo que, para quem queira vender o seu serviço em Pilates ou outra coisa qualquer, pode até ser vantajoso criar níveis de "competência" explícitos para os clientes. É que, assim, se joga com o EGO das pessoas. Quem não gosta de satisfazer o EGO sabendo que "passou" para o nível intermédio ou que "já faz" o avançado?... Não vejo que haja algum mal nisto uma vez que o método é mesmo muito bom para o Ser - corpo e mente - seja aplicado por níveis ou não. Entendo, no entanto, que nós instrutores devemos usar o Método para servir os corpos dos nossos clientes e não vice-versa.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

2º ANIVERSÁRIO

Hoje faz dois anos que inaugurei o meu estúdio - Estúdio Nuno Gusmão - aqui no ginásio Academia, em Santos. Foi um passo que tinha que ser. Não foi nada problemático, não foi sequer complicado. Tinha que ser. Recordo-me que dois meses antes já eu dizia que o meu estúdio ia abrir em Abril desse ano. Escrevi mesmo isso num dos meus livrinhos que me acompanham sempre. Quando me perguntavam onde iria abrir eu não sabia responder, ainda não tinha nenhum local, apenas tinha a certeza de que iria abrir em Abril. . . E assim foi! Já somos muitos aqui a trabalhar: Eu, o João Lobo, A Edite Caetano, a Sara Freitas, a Patrícia Abreu e a Thais Caniceiro. Além destes já residentes, tenhp uma leva de aprendizes que estão doidos por começar a trabalhar à séria. Para já ainda estão como estagiários... Vamos no segundo curso de formação e para ao ano parece que sempre vai haver mais uma "fornada" de aprendizes... Trabalhar assim neste ambiente é um prazer! Obrigado a TODOS os meus colegas e os meus alunos!!!

terça-feira, 17 de março de 2009

Em terra de cegos...

Estas coisas são mesmo assim. Começam devagar, pé ante pé, sem fazer muito barulho, quase em surdina. Alguns mais afoitos percebem o valor da coisa e lançam mãos. Outros começam então a ver os resultados e percebem que, para estarem onde toda a gente parece se dirigir, têm também que correr atrás. Sempre foi e sempre será assim. Resistimos à novidade pelo simples facto de ser novidade, por não se encaixar nas nossas rotinas, no nosso mundo certinho. Depois, quando a novidade já anda de boca em boca, então é melhor acreditar mesmo nela para não perder o rebanho. Não está mal. É assim!
E assim se fazem reis em terras de cegos. E muitas vezes o rei vai nú... Por isso o melhor mesmo é continuar com um pé diante do outro e gozar o caminho, aproveitar cada passo. É que reis há muitos e todos eles destinados a serem destronados. Com coroa ou sem ela os pés cheiram mesmo todos àquilo que se pisa.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Opções...

É só um ponto de vista, uma forma de pensar e de estar na vida, no mundo. Posso ter que mudar esta forma de pensar e de estar, nunca sabemos onde nos levam as circunstâncias da vida.
Durante a minha carreira - com quase 20 anos de prática já me sinto bem em falar em carreira - sempre aconteceu ter que decidir e fazer as minhas opções fora dos grandes intervenientes do mercado. Nunca vesti uma marca, nunca foi adoptado por nenhuma delas. Não que eu esteja contra ou que não quisesse. Claro que gostava de ter sido apadrinhado e garantido por algum parceiro de nome que me abrisse o caminho e me facilitasse a vida. Tal nunca aconteceu e hoje agradeço sinceramente este caminho que fui trilhando. Não quero com isto dizer que não tive ajudas - grandes ajudas - e apoios dos responsáveis pelas empresas com quem trabalhei. Continuo a admirar algumas das pessoas que quiseram apostar em mim em determinada altura do meu percurso.
Sei que qualquer opção que tomemos na vida, qualquer ponto de vista, tem sempre consequências. Tenho aprendido que nem todas as escolhas são apreciadas pelos nossos pares, pelos nossos parceiros sociais, pelas nossas relações. Assim sendo, apesar que escolhermos o que nos parece melhor para nós, haverá sempre alguém que não reconhece esse benefício. Não podemos agradar a toda a gente e isso não nos deve deter de fazer opções, de fazer escolhas conscientes. Quando não optamos por aquilo que queremos estamos a ceder (optar) por aquilo que não queremos.
Quando queremos fazer escolhas no campo profissional - e nos outros campos da vida também-, hoje em dia, temos que estar muito conscientes e cientes daquilo que verdadeiramente queremos porque as solicitações e as ofertas daquilo que não queremos podem parecer tão tentadoras que nos fazem perder o rumo ... Há muita pressão para que não façamos escolhas conscientes e que nos deixemos guiar por quem tem personalidades e planos de vida mais fortes.
Eu não sou imune à influência do meio e dos outros nas minhas escolhas, mas, estando consciente disso, posso tentar perceber as implicações das escolhas que faço.
E, assim, vou continuar a escolher caminhos na vida!