domingo, 21 de janeiro de 2007

Comprometer-me ou não ...

Ontem tive a visita do meu amigo Fernando de Bilbao, instrutor de Pilates. Foi muito interessante partilhar um pouco da sua experiência e sensibilidade que adquiriu durante a formação em NY com a Romana. Diz ele que passou os mesmos sete meses que eu fiquei no Brasil com a Inélia, mas com a Romana. Todos aqueles dias a ver a Romana a trabalhar com os seus alunos/clientes do dia a dia. Perceber as decisões no momento de observar um corpo, etc. Um verdadeiro privilégio. Eu tive o mesmo privilégio no Brasil, com a Inélia Garcia. E que privilégio... Bem, em conversa com ele, percebi o seu valor enquanto instrutor e pesquisador constante do Método Pilates. Partilho totalmente da sua visão. O importante é ter uma fortíssima base do Método original e ir fazendo pequenas descobertas e explorações dentro dos exercícios originais. Quando eu falo em base quero referir-me não só ao conhecimento teórico e visual dos exercícios, princípios, etc do método, refiro-me - não sei mesmo principalmente - ao conhecimento corporal, sensorial, dos exercícios, dos princípios, das adaptações inerentes á aplicação do Método. Qualquer método ou técnica de exercício só é aprendida no corpomente. Não basta lê-la, é preciso aplicá-la ao próprio corpo e aos corpos de outros para a aprender verdadeiramente. O Fernando dizia uma coisa super importante, que aliás o Michael e o Ton já tinham referido, que é muito diferente o que vemos o corpo fazer e o que o corpo está realmente a sentir em consequência do movimento. Ele fala no "movimento que se vê e o movimento que se sente". é o que eu chamo a linguagem do corpo - os sentidos. A propriocepção é a linguagem do corpo relativa ao movimento e às adaptações músculo-esqueléticas. Mas retomando, a modéstia evidente do Fernando pode servir de justificativa para a não tomada de posições públicas relativamente à nossa prática, neste caso o Método Pilates e o conhecimento do corpo. Eu sei que não sei tudo e que há muito mais gente a saber bem mais do que eu. Também que sei que há por ai muita gente que sabe muito pouco comparado comigo, mesmo muito pouco, e que com esse poucochinho faz-se valer. Pois é, o mercado do treino do corpo e o conhecimento do corpo está cheio da asneiras e eu sei apontá-las e verifico-as todos os dias, infelizmente. Mas, e eu, o que faço eu para alterar algumas dessas asneiras? OK, dou o exemplo com a minha prática. Mas posso fazer mais e acho que está chegado o momento de fazer mais. E fazer mais, significa disponibilizar o meu conhecimento de forma ordenada e sistematizada para quem o quiser aprender e utilizar. Dar formação. Ora aqui está uma coisa que me assusta, sempre me assustou, e atrai ao mesmo tempo. Quando me comprometo a ensinar sobre aquilo que faço estou a comprometer-me, estou a assinar o meu nome por baixo. Mas, e que mal há nisso? Qual o problema? Pois é, não há problema real há somente na minha cabeça. Penso: E se daqui a um tempo já percebi mais qualquer coisa sobre o corpo e sobre a minha prática - que espero que aconteça - que me faz alterar de opinião? Nesse caso só tenho que ser justo e correcto e mudar de opinião e mudar a minha prática. Isso quererá dizer que evolui, que cresci no meu conhecimento. E isso é BOM! O que há a fazer, então? Comprometer-me! Meter as mãos na massa e fazer entender os processos que me levaram a perceber o que percebo hoje na esperança de que possam ser inspiradores para mais alguém. Fazer entender que com a evolução do conhecimento - conhecimento lido e conhecimento sentido/experimentado - é importante que haja um reequacionar da nossa prática.

2 comentários:

cata disse...

Olá mano, também acho que fazes bem em comprometer-te. A aprendizagem é contínua, felizmente.

Lembro-me que o Mestre Yang, com quem o Nelson aprende artes marciais, de quando em quando vem cá dar estágios e muitas vezes aquilo que ele sempre disse que se fazia "assim" passa a fazer-se "assado". Estudou, experimentou e concluiu que seria melhor mudar.
Isso está sempre a acontecer.

Vai em frente!!
Beijos.

Paulo Morgado disse...

“Todo o processo educativo é um acto de sedução. Tem de ser. Sedução até erótica. Não há outra maneira de ensinar senão seduzindo. E seduzindo, partilhando, fazendo descobrir, etc. E de facto as personalidade que marca é a personalidade sedutora." (...) "“O culto do conhecimento - aquisição, desenvolvimento do conhecimento – é uma condição de LIBERDADE. Isto é uma das verdades que mais tardiamente se aprenderam e assimilaram. Depois os economistas apropriaram-se disso e disseram que o conhecimento é um valor económico (implica maior produção, mais ganhos, etc). E outros acharam que um melhor conhecimento é PODER. E pega-se nestes 3 aspectos diferentes do conhecimento e, mais uma vez chama-se a importância para a reflexão filosófica sobre cada uma destas formas e cada repercussão do conhecimento. Gosto especialmente do concerto de Alban Berg “A Memória de um Anjo”, um concerto de celebração da morte de uma forma transcendente e admirável. http://www.amazon.com/gp/music/wma-pop-up/B000001GH9001001/ref=mu_sam_wma_001_001/105-1102595-4796468 O que me dá gosto é o exercício da inteligência! Isso vem da educação. A herança mais importante que se pode deixar aos filhos é o gosto pelo BELO.“

João Lobo Antunes, Neurocirurgião, no programa Câmara Clara de Paula Moura Pinheiro. RTP :2 (12/01/2007)

Não tens nada a temer, meu querido :-)
Não conheço ninguém MAIS capaz!